Por Louise Maria de Carvalho
Na segunda metade do século XIX acontecem grandes avanços, principalmente na Europa, contra a ordem do sistema capitalista tanto em relação às teorias, quanto às práticas de lutas. A partir desse contexto, diferentes formas de socialismo surgem como alternativas ao modelo liberal vigente. Dentre essas correntes, uma que se destacou foi o socialismo libertário ou anarquismo que, devido aos seus princípios políticos, foi um dos pioneiros a incluir a educação como elemento fundamental para se atingir a revolução não apenas política, mas sobretudo social.
Um dos pressupostos que diferenciava o anarquismo das demais correntes socialistas seria – e continua sendo – a tática de atuação e os princípios que buscam uma transformação social que ultrapassa a ocupação de cargos no Estado para dirigir o processo revolucionário por meio de um partido específico. Para os anarquistas era necessário construir alternativas à concentração de poder nas mãos de apenas um líder em todos as áreas da sociedade, de forma concomitante e sem que nenhum setor social tivesse maior grau de importância ou valor do que outro.
Desse modo, a educação passa a ser um elemento que de certa forma unificava toda a classe trabalhadora na aspiração a um modelo de sociedade menos desigual, construído de baixo para cima. As chamadas escolas operárias para a classe trabalhadora e seus filhos e filhas eram fundamentais para não só instruir todos e todas no processo, mas também as próximas gerações. Por essa razão é que Proudhon e Bakunin – teóricos anarquistas – sempre levantaram, em seus escritos a bandeira por uma educação anticapitalista, antirreligiosa e antiestatista. Tal educação deveria ter como objetivo uma educação integral, buscando aliar as formações físicas e intelectuais dos estudantes a fim de romper com a dicotomia entre corpo e mente que temos na educação liberal-capitalista, isto é, a que já temos desde sempre, seja nas escolas públicas ou privadas.
Ao longo do século XX, tivemos diversas experiências educacionais libertárias em todo o mundo até hoje é possível relacionar tais princípios educacionais com a prática de diversos projetos de educação em todos os cantos do mundo. Atualmente a prática libertária na educação se insere tanto em projetos de alfabetização política e anticapitalista em ocupações urbanas e ocupações sem-terra, quanto na construção de uma educação quilombola e indígena fortalecendo seus territórios e suas culturas ancestrais; alcança até pré-vestibulares sociais e creches comunitárias, sejam em favelas ou outros locais periféricos de grandes centros urbanos e até mesmo em escolas que buscam transcender o currículo formal para desenvolver uma abordagem mais crítica, global, que integra os diversos saberes da nossa sociedade.
Portanto, afirmamos que a educação libertária apresenta uma crítica direta à educação tradicional, oferecida pelo capitalismo, tanto em aparelhos estatais de educação quanto nas instituições privadas. Tal crítica se dá principalmente às escolas ligadas a gestões de ordens religiosas com caráter ideológico e político que reproduz a exploração e a dominação das classes privilegiadas no sistema capitalista dentro do âmbito escolar.
As ocupações escolares que aconteceram nos últimos anos revelam que esse processo de crítica à educação tradicional provida pelo capital continua presente. Sendo assim, acreditamos que uma educação popular e libertária que busque a autonomia de forma coletiva como alternativa ao sistema vigente são caminhos viáveis para uma possível emancipação política e social das circunstâncias na qual vivemos. Isto é, um contexto de globalização econômica, projetos cada vez mais capitalistas e reacionários que adentram o campo da educação e um viés neoliberal que assola as populações marginalizadas, seja no Rio de Janeiro ou em outros grandes centros urbanos do Brasil, no Chiapas – México e em outros países da América Latina, ou qualquer outro lugar do mundo em que a desigualdade social predomina.